quinta-feira, 14 de abril de 2011

O dicionário de Bruno Vieira Amaral

casamento, s.m. União entre um homem, uma mulher e uma televisão ou, nas regiões montanhosas, entre duas pessoas com bigode, para assegurar a dose semanal de sexo gratuito e a divisão de despesas.

jeitismo, s.m. (ou desenrascanço sem fita-cola). Corrente filosófica que divide os seres humanos em duas categorias: os que têm jeito para tudo e os que não têm jeito para nada, sendo estes, regra geral genros e filhos do meio. Os seguidores do jeitismo são conhecidos como jeitosos e entre estes há os pessimistas, que quando vão comprar nunca encontram nada de jeito, e os optimistas (v. derenrascanço) que acreditam que tudo, desde a saída do estacionamento ao sexo, se resolve com um jeitinho (ex.: «Ó chefe, dê aí um jeitinho», «Pode ser, mas com jeitinho»).


milagre, s.m. Acto mágico e/ou divino através do qual se obtém a multiplicação de peixes, a transformação de água em vinho e a redução da taxa de desemprego enquanto o número de desempregados aumenta.


onanismo, s.m. Ramo sexual da auto-ajuda em que o indivíduo obtém prazer pelos próprios meios.

uísque, s.m. (aport. do inglês whisky). Bebida alcoólica que não resolve a crise, mas ajuda a esquece-la.

usados, adj. m. pl. A aquisição de produtos em segunda mão é uma escolha nacional em tempos de crise, o que abre boas perspectivas para viúvos e divorciados que frequentam salas de chat.

xenocopiar, v. Método arcaico (pré-internet) que permite ao utilizador licenciar-se em Literatura Portuguesa sem ter de comprar um único livro.

zero, s.m. Número de portugueses que acham que no próximo ano o País vai melhorar.

- in Revista Ler, Janeiro de 2011, pp. 50-53

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