terça-feira, 11 de agosto de 2015

A beleza é uma amante cruel e requer elevado apuro técnico



Kristin Beeler


Max Factor inventou o Beauty Micrometer (ou Beauty Calibrator) entre 1932 e 1935. O dispositivo, usando tiras de metal flexível e capaz de 325 ajustes diferentes através de parafusos, possibilitava medições da face humana com a exactidão de um milésimo de polegada. 

A invenção, em tudo semelhante a um instrumento de tortura medieval, foi tão somente o utensílio que determinava a maquilhagem eficaz nos filmes a preto e branco. 

O aparato, efectuadas as medições, aferia o grau de perfeição em relação ao que na época era considerado um rosto ideal em cinema. O maquilhador, com as indicações da máquina, decidia que características físicas deviam ser ocultadas, corrigidas, ou aprimoradas. A justificação para tudo isto? Simples: imperfeições quase invisíveis ao olho comum resultavam deformações flagrantes no grande ecrã.

Embora nunca claramente explicitado pelo seu criador, a máquina procurava apenas ajudar a criar rostos de simetria* perfeita (ainda hoje o motivo do culto e fascínio por actrizes do preto e branco e.g. Clara Bow, Louise Brooks, Greta Garbo, etc.). Prova disso são as duas medidas-chave da maquineta: o comprimento do nariz deve ser igual à altura da testa e a distância que separa os olhos deve ser igual à sua largura.


Max Factor demonstrando a utilização do calibrador de beleza

Duas actrizes maquilhadas para televisão a preto e branco por Max Factor Jr.


Com o advento da película a cores, Max Factor Jr. (nascido Francis Factor mudou de nome em 1938, após a morte do pai) inventou a primeira base de maquilhagem a que deu o nome de Pan-Cake, disponibilizada comercialmente ao público em 1937.




Glamor is not something you're born with, it's something you create. 
— Max Factor

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*Já aqui foi aflorada a simetria, mas tão en passant, tão leve, tão levemente que dela não ficou, nem chuva, nem gente. Com tempo lá voltaremos, ao eixo, talvez antes de cair neve.

8 comentários:

  1. Uau! Obrigada pela info. Assustei-me quando vi a maquineta, e confesso o meu respeito pelas acrizes mencionadas, e outras, que se sujeitavam a essa merda toda. Acho impressionante como nos deixamos impressionar e assumimos como correcto, o que alguém determinou sê-lo, e nem estou a falar da simetria, que é sabido ter um impacto visual fortíssimo na mensagem que o cérebro recebe. Temos uma memória genética que associa simetria -> perfeição-> beleza, em menos tempo que dura um suspiro. (Curiosamente, esse tipo de quase exigência refere-se exclusivamente ao rosto.. nunca vi ninguém assim muito preocupado com a simetria de seios ou nádegas, por exemplo, mesmo sabendo-se serem essas partes anatómicas de vital importância nas escolhas de um índio). Mas lá está, as 1ºa impressão conta muito. Dizem.
    A seguir à base, vieram os moduladores, que aumentam e diminuem, visualmente, o que se considera assimétrico. Pessoalmente nunca usei, porque foda-se, nunca mais se saía daqui, para além da trabalheira que dá a tirar aquela cena toda da pele. Mas são muito eficazes, em termos de ilusão.

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  2. Eu, no blog do Anão, a falar de maquilhagem. Socorro.

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    1. Sim, cruzes, canhoto, caem os parentes na lama.

      Não conheço a cena dos moduladores, mas vou investigar.

      Interessante é saber que ele, o filho, e continuadores inventaram o lip gloss e o batom à prova de borrão, este último com recurso a robots beijadores e médias de pressão. Estou com preguiça de contar a história. É comprida.

      Mas daqui resulta que o gajo que entra em casa com batom no colarinho é mito urbano.

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    2. Uma vez que não é (mito urbano) e posso provar, pode-se concluir que a exuberância de um beijo não é compatível com níveis de pressão, testes e etc. Mas a Max Factor continua a ser um ponto de referência, claro.

      Moduladores, são uns pózinhos que escurecem determinadas áreas do corpo (inclua-se os seios), no sentido de, visualmente, as as definir, aumentando ou diminuindo. Milagrosos. Pena é que depois têm que sair, e voltamos à dura realidade.

      (Arte, meu bem. Falamos de Arte).

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    3. Quando não é mito urbano não é por acidente, nem exuberância. É um recado.


      (Moderna ou contemporânea?)

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  3. Obviamente.

    O que não invalida o não ser um mito urbano.


    ( Dependo do resultado).

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    1. * DependE

      Eu dependo de outras coisas.

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  4. Obviamente.

    O que não invalida o não ser um mito urbano.


    ( Dependo do resultado).

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