Como vê a literatura portuguesa, sabendo nós da sua (dela) relação difícil com o sexo?
Em
primeiro lugar, julgo ser mais ou menos evidente que os escritores
portugueses fodem pouco e mal. Decorre daqui que as traulitadas sejam
deficientemente representadas, não só na literatura, mas também nos
livros do Miguel Sousa Tavares, por exemplo. A este propósito, chamo a
sua atenção para o célebre episódio da noite de núpcias, no "Rio das
Flores". Diz assim: "[Diogo] entrou nela devagar, conforme ela pedira.
Devagar e cada vez mais fundo, até que um dique se rebentou algures, não
sabia se dele, se dela, se de ambos." Note que se trata de um erotismo
hidráulico, este que cruza os diques com a berlaitada. Aqui para nós,
deve ser incomodativo. Está um homem sossegado, convencido de que vai
arrefinfar gostosa pinada inaugural na esposa, e de repente o
rebentamento de um dique revela-lhe que está, na verdade, a ir à bufa da
Holanda. Eu, além de rejeitar a presença dos diques na copulação,
prefiro a linguagem a que se costuma chamar obscena. Acho menos
ordinária. Obsceno é um termo que tem raiz na sensibilidade teatral, e
significa o que ficava fora de cena: o sexo e a morte. A mariconça
plateia não aguentava ver a frágil carne humana penetrada, quer pela
lança, quer pela caralhaz lanceta - para usar a linda formulação de
Bocage. O que se rejeitava era, portanto, o falo. Essa linguagem dos
bastidores interessa-me porque é mais viva e mais límpida - e, como já
lhe disse, aspiro à clareza. Eu, de hermético, só tenho o cu. Em segundo
lugar, julgo que se fornica menos bem no lupanar do que na sacristia.[...] Minhas traulitadas prestam tributo a velhas traulitadas;
sarapitolas de outrora vêm iluminar minhas sarapitolas. Além disso, a
citação conduz à excitação, designadamente do grelo letrado - que, sendo
muitas vezes enfadonho e quase sempre maljeitoso, constitui excelente
petisco para intercalar entre duas séries de sopeirinhas.
O texto online da entrevista por e-mail com o autor, aqui. Atentem na fungosa ilustração.
Outro jornalista a fazer blogues.
ResponderEliminarO RAP ñ é jornalista.
ResponderEliminarDizem eles, e dizem bem ;)
ResponderEliminar«Desde o início que os praticantes do rotíssimo exercício de tentar adivinhar-me a identidade teimam em supor que sou alguém "famoso". Nunca percebi porquê. Agora, a revista "Ler" reclama ter feito investigação minuciosa e indesmentível e sustenta que eu sou mesmo Ricardo Araújo Pereira. Parece que, tal como eu, ele tem conhecimento de um livro intitulado Bíblia e sabe da existência de um escritor obscuro chamado Shakespeare. Que se há-de fazer? Enfim, não duvido que haja quem se gabe de ser o Pipi. Pelos vistos, eu sou o único que não o faz. A questão da identidade é menos interessante do que parece. Um nome não contribui em nada para definir alguém: hoje sou um homem que gosta de tetas grandes, mas amanhã posso ser um homem que gosta de tetas ainda maiores. Sou o mesmo homem? Posso ser designado pelo mesmo nome? Não sei, nem interessa. O que tenho feito é concentrar-me nas tetas, e deixar de lado a identidade - que não traria esclarecimento, mas confusão. Hegel escreveu que a identidade é a identidade da identidade e da não-identidade. Que quereria ele dizer com isso? Não faço ideia, ainda estou a pensar em tetas. E sou contra tudo o que possa desviar a atenção das tetas.»
ResponderEliminarTudo, mas absolutamente tudo, brilhante!
Gajo, mais depressa eu dizia que o
autor deste chorrilho de pedras preciosas és tu, que o Ricardo Araujo. Que tem lá a sua piada, é inteligente, muito pertinente e tal, não me parecendo no entanto - e posso estar enganada, mas duvido muito - ter savoir faire pra tanto. Sem o desmerecer, tá claro.
Generosa. Louvado seja quem te der a recompensa.
ResponderEliminarA semelhança entre esta pessoa e aquela é que ambos iremos gelar no Inferno.
Sem desmerecer o Anão, que é muito bom, o RAP pode muito bem ser o pipi, não sei. Parece-me que tem talento para tal.
ResponderEliminarSe tiverem tempo, vejam isto
http://www.youtube.com/watch?v=NhdWUbvk41o&feature=results_main&playnext=1&list=PLE8443D5D5553791E
Quando digo que o Anão é muito bom, estou a falar de talento, claro! :)
ahahahahaha, la conseguiste emendar a mão à pressa, hein Maguizita? :P
ResponderEliminar"o meu pipi" é o RAP, sim.
"Essa linguagem dos bastidores interessa-me porque é mais viva e mais límpida - e, como já lhe disse, aspiro à clareza. Eu, de hermético, só tenho o cu."
ResponderEliminar...ahahahahahahahahahahahahaha, delicioso lololololololol...
Pipi? Ricardo Araújo Pereira?
ResponderEliminarNão, pás, o RAP sabe escrever.
Sim, e a seguir vais dizer que o Rodrigo Guedes de Carvalho; o pior imitado do ALA neste planeta, é escritor.
ResponderEliminarTiago, sem ofensa ou polémica, o autor de "Sermões" e do livro anterior, é um escritor erudito, não é um humorista culto e inteligente. Existe uma diferença.
Sabes que o VGM já foi apontado como autor?
Talvez o RAP com muita investigação e trabalho. Talvez. Não sei. Mas tu colocas a questão exactamente ao contrário. E estás profundamente errado.
Mas talvez o "Pipi" de que falamos não seja o mesmo.
Só pra quem sabe a diferença entre "quem sabe escrever" e quem podia ter inventado a escrita.
ResponderEliminarO Araújo sabe escrever, mas está a anos luz do quem quer que seja autor daquilo. Não se conseguir ver isso, é como não se conseguir distinguir o ouro, de tudo o que luz.
Sempre tão directa, esta catraia...
ResponderEliminarChico, bate a bola baixa.
ResponderEliminarO guarda-redes é anão.
Uá! uá! uá!