domingo, 6 de novembro de 2011

Ainda o debitum conjugale: "O Núcleo Intangível da Comunhão Conjugal - Os Deveres Conjugais Sexuais"

A propósito disto veio-me às mãos coisa inspirada de Pedro Mexia*. Diz ele sobre o assunto:
«"O Núcleo Intangível da Comunhão Conjugal - Os Deveres Conjugais Sexuais" (Almedina, 2004). É uma dissertação de doutoramento de oitocentas e tal páginas [...] defendida e aprovada perante um impressionante comité de sábios. [...] O autor agradece à esposa o "espírito de renúncia" manifestado ao longo de cinco anos, mas, para que não se interprete mal essa "renúncia", acrescenta que nesses cinco anos lhes nasceu uma filha. O doutor não está, pois, em incumprimento.


O que é que me interessou nesta tese de Jorge Alberto Caras Altas Duarte Pinheiro? O título, desde logo, A "comunhão conjugal" talvez não me despertasse o interesse; o seu "núcleo" já me intriga; e que esse núcleo seja "intangível", espécie de ponto G jurídico, fascina-me. Desenganem-se, porém, os que esperam poucas-vergonhas. É verdade que o texto está pejado de expressões como "eficácia horizontal", "o eixo da função", "o escopo da protecção", "a ligação orgânica" e até, pasme-se, o melindroso "processo de retroalimentação". Infelizmente, são apenas termos jurídicos. O livro de Caras Altas está mais interessado no "nexo causal" do que no sexo casual e prefere o "ónus" ao ânus.** No entanto, gostaria de deixar registado, com apreço, que este é o primeiro ensaio jurídico em que encontrei a palavra "gonorreia".
A tese de Caras Altas é que o casamento, apesar de todas as mudanças que foi sofrendo em matéria de igualdade e liberdade, "continua a impor aos cônjuges o dever de não terem sexo com terceiros e o dever de terem relações sexuais um com o outro".
[...]
Para Caras Altas, o núcleo da comunhão conjugal de vida (carinhosamente designado como "Kernbereich der ehelichen Lebensgemeinschaft") é o coito. {...] Cada um dos membros de um casal pode, de acordo com a saúde, a idade e a condição física, limitar a actividade sexual conjugal, mas não acabar com ela. Um dever é também uma forma de sacrifício.»

* In Expresso, 24 de Setembro, 2011, Revista Atual, p. 3
** Negritos e sublinhado deste copista


E agora, se me dão licença, vou procurar uma Pedra de Ara e aguardar.


6 comentários:

  1. "Espírito de renúncia". "Dever".

    Misturar isto com sexo, é o mesmo que se por uma peça de roupa escura, numa máquina de roupa branca, a 90 graus.

    Epá, "um dever é também uma forma de sacrifício", sinceramente...

    Fiquei enjoada.

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  2. Margarida11:24

    Qualquer um dos cônjuges pode renunciar num sítio e ir a jogo num outro.

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  3. Não pode.:((

    E passo a citar:
    "continua a impor aos cônjuges o dever de não terem sexo com terceiros"

    Mas talvez com quartos, quem sabe. Isto há sempre uma forma de se dar a volta à lei.

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  4. Margarida11:42

    Andei à procura disto, que conheci há uns meses , é uma delícia e tem muito a ver com a sexualidade made in sr. doutor



    O Truca Truca

    Já que o coito - diz Morgado -
    tem como fim cristalino,
    preciso e imaculado
    fazer menina ou menino;
    e cada vez que o varão
    sexual petisco manduca,
    temos na procriação
    prova de que houve truca-truca.
    Sendo pai só de um rebento,
    lógica é a conclusão
    de que o viril instrumento
    só usou - parca ração! -
    uma vez. E se a função
    faz o orgão - diz o ditado -
    consumada essa excepção,
    ficou capado o Morgado.

    Natália Correia

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  5. Grande Natália Correia.

    Eu cá, que sou católica embora não praticante (mas muito crente), aprendi que na terra do bom viver, faz como vês fazer, vai daí que, impregnada pelo mesmo espírito de conveniência com que a santa igreja dissemina a sua palavra, agarrei-me com tudo o que tenho ao "uni-vos", dando ao "multiplicai-vos" a subjectividade que uma ordem, assim isolada tem. Já ao "e", até hoje não sei muito bem o que fazer com ele, mas não me parece muito importante.

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  6. «O chão é cama para o amor urgente,
    amor que não espera ir para a cama.
    Sobre tapete ou duro piso, a gente
    compõe de corpo e corpo a húmida trama.

    E para repousar do amor vamos à cama»

    Carlos Drummond de Andrade

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