«Salas com o tamanho de cozinhas e distância entre filas bastante para colocar joelhos em boca. Exibia filmes rotulados essenciais para a formação pessoal. Não eram divertidos, não ensinavam, e se faziam pensar era porque nada sucedia em sequências de largos minutos.
Quando vi Godard colocar, em cima de um ringue de boxe, uma parelha de homem e cavalo, comecei a desconfiar. As críticas cinematográficas do Expresso incensavam os desmandos do cineasta neurótico. Eu, jovem e imberbe, desejoso de mascarar os sintomas de excesso de testosterona, devorava imagens na esperança de melhorar as ligações sinápticas, e assim, o meu intelecto abafasse as hormonas.
Mas, as intelectualmente carentes e medianamente atraentes, afluíam solitárias àquele local de peregrinação neuronal. Lá me ia sacrificando na esperança de que, num espasmo intelectual de prazer, ao observarem os grandes planos do Bergman, alguma delas me agarrasse o joelho. Ou, então, Kama Sutra da cultura cinéfila, no intervalo, durante o Casanova de Fellini me fizessem perguntas sobre a performance do Donald Sutherland e as exigências físicas do papel.
Infelizmente, o máximo que consegui, ao cabo de meses de frequência, foi emprestar o suplemento cultural do citado jornal, e o receber de volta bem amarrotado. Foi um sinal. Nunca mais lá voltei.»
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