Tuesday, 21 August 2012

Ruth St. Denis



c. 1915

7 comments:

  1. Parece uma Nefertitis...

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  2. Nefertitis não é a descobridora da NEFRITE, nem era médica....era chamada a Deusa da Dança.
    Se eu estiver enganado malhem com força que eu sou masoquista >))

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    1. Deusa da dança: Terpsíscore. A senhora da foto, é uma das criadoras da dança moderna nos states. E aqui está fantástica, qual virgem vestal a banhos no Algarve.

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  3. Anonymous09:13

    Essa não era mulher dum faraó qualquer?

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  4. Solicitude
    Por entre ramos e sombras, crepúsculos ou marés, desenrolei o meu corpo como se fosse um rolo de papel. Ninguém sabe, nem eu, a porção de mim que escondo.
    Vesti-me de seda branca, transparente sem outro motivo se não este: sentir-me livre e viver, naturalmente, mais um dia ou uma hora que fosse. Nem sempre as palavras dizem o que queremos ou então somos nós que já as gastámos ou, muito simplesmente, não as temos dentro de nós. Por isso, vou desenrolar-me para fruir sem pensar.
    Sou como terra lavrada e experimento-me, pé ante pé. Não tenho pressa em beber das minhas fontes ou de inaugurar o despudor que floresce em cada um dos meus gestos. Nas manhãs calmas de verão é que se afinam as cordas da música que tenho cá dentro. Perfumes densos e gostos novos em cada encontro que se converte numa sinfonia inacabada.
    Não sou com Sísifo subindo e descendo… Quando subo e desço, descubro novas vertentes de mim e nunca subir e descer, embora seja um gesto repetitivo, foi ou é um castigo.
    CONTINUA

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  5. Olho-me ao espelho como se me mirasse na água das fontes. A frescura que o meu corpo exala tem cheiro a algas e ouço a música dos búzios nos meus seios redondos e firmes.
    Sinto-lhe a textura e a forma quando as minhas mãos sentem o roçagar da seda. Formam-se pregas que escondem o pulsar da carne que cede à pressão dos meus dedos.
    Desnudo uma parte de mim como se fosse uma deusa e vou riscando pelas minhas pernas um percurso que os lábios não sei de quem reconhecem como sendo a fronteira para além da qual tudo é permitido, mesmo nesta nítida ausência.
    A seda vai subindo e continuo a desenrolar-me diante do espelho. As minhas cuecas são finas e transparentes, deixando que realce a púbis saliente. Saracoteio o corpo, dando uns ligeiros passos de dança. A seda que visto está por dentro do arco dos meu braços. Deixo cair tudo de novo e a dança ganha ritmo e mais cadência. Sei e sinto que o meu corpo se esgueira para além, onde se esconde o desejo ancestral de permanecer neste intragável mistério.
    Olho-me nos olhos onde me afundo como se, dentro de mim, estivesse uma gruta húmida e escura. Lá, bem no fundo, encostado à pedra, está um altar onde me volteio como se estivesse a ser possuída pelo vento. Não faço nada, apenas me observo, esquiva, fugindo da entrega à pressa que não tenho, em tempo real, mas que na gruta se transforma e digladia. A força e o ímpeto desvanecem a razão, cedendo à pressão dos sentidos.
    Não entendo este desfasamento entre o tempo real e o sonho nem porque razão tenho que recorrer a uma gruta, quando estou diante de um espelho.
    CONTINUA

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  6. Sacudo a longa cabeleira como se fosse a executante de uma peça lírica, cujo tenor se inspira nos meus cabelos ondulantes. Sensualmente agrestes e fulvos desmancham o preceito que há em seduzir multidões. A voz do tenor afrouxa quando lhe tomo as mãos. Não, não quero permanecer neste estado de semi-inconsciência e de fascínio pelo nada. Dou uma sacudidela no corpo e volto a olhar-me nos olhos. Transpiro!
    O vestido de seda cai direito e transparente. Mais uma onda que avança e não resisto ao toque da seda no meu corpo. Comprimo de novos os seios, sentindo que qualquer artista gostava de me desenhar nua em cima de um divã. Levanto toda a seda que me cobre e ficam-me pregas de tecido enroladas no pescoço. Não, não sou Odette nem me transformei num cisne. Estou aqui! Sou mulher!
    Deitou-me no chão, inesperadamente, e desenrolo-me de uma só vez. Quase que bato com a cabeça nos móveis. Não sei onde estou nem quem sou nesta agonia que, de repente, em mim, deflagrou. Sinto a rigidez do soalho e sento-me, de pernas cruzadas, diante do espelho. Imponderavelmente imundo é este requiem que antecedeu a minha “estreia.”
    Gosto de mim, gosto, como sou, ainda que seja uma vagabunda que vagueia nos mais díspares estados de alma. O meu corpo é meu harém onde possuo e sou possuída pela devassidão e pelo contínuo mistério.
    A arte permanece nas curvas do meu corpo quando me soergo enamorada do tempo em que permaneço em mim, inaugurando todas as alvoradas, ainda que com a dor e martírio pelo meio.
    Deito-me na cama, rente à janela. Sinto o vento que entra e me acaricia através da seda e permaneço muda neste estado de perfeita rendição.
    26/07/2009
    Isabel Vieira

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