sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Inês Pedrosa, sexo e transgressão*

Falou de transgressão: em que é que quis transgredir com o romance Os íntimos?
Quis transgredir os limites demasiado sossegados e solenes que me parece ainda existirem na literatura portuguesa em relação, por exemplo, à expressão do sexo ou do erotismo. Isso estava muito claramente na minha cabeça. É uma coisa que me interessa. Ainda há pouco tempo se falou muito disso publicamente e o diagnóstico genericamente foi o de que os escritores portugueses escrevem mal sobre sexo.

É também essa a sua opinião?
O meu diagnóstico é de que os escritores portugueses fogem muito do assunto. E quando vão ao assunto vão com tanta metáfora! Quando estava n'O Independente, nos anos 80, fiz um texto precisamente sobre isso: o sexo na literatura portuguesa. Fui fazer um levantamento em romances da época e percebi que quando se chegava ao sexo as metáforas náuticas estavam por todo o lado. Parecia que o sexo era a aventura dos Descobrimentos: o meu mastro na tua concha, o meu ceptro no teu búzio ...

O problema da linguagem náutica é evocar muito o enjoo.
Realmente era um enjoo náutico. Já na altura fui buscar esse tema porque é um tema que me toca, se calhar, desde o primeiro livro que me marcou. Com a idade é que vou reparando nisso.


*Ler, Junho de 2010, p. 30

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