sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Não queiras ir muito ao fundo, / inda agora que tanto entendas; / nesta razão te me fundo: / não hás-de mudar o mundo, / por mais razões que despendas.*



Ao acordar, erguido por uma vontade dolente até à posição vertical, revela-se torto o pescoço, e a dor no trapézio direito. Uma contractura, outra, pensei resignado. Mais tarde, bastante mais tarde, atento o desconforto sem fim, consultei as batas brancas. Feitas as verificações habituais - incluindo apalpações e exames desnecessários -, veio o diagnóstico: «Está tudo bem», dizem-me, «essa é a postura correcta, o sotor é que insiste em observar o mundo da perspectiva errada.»

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Possa eu repetir o que te disse por cá: aborda a natureza através do cilindro, da esfera, do cone, tudo em perspectiva, que cada um dos lados de um objecto, de um plano, se dirija para um ponto central.
— Paul Cézanne, em carta a Émile Bernard, 15.Abr.1904

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*Sá de Miranda, 1595, Écloga Basto, fala de Bieito 

5 comentários:

  1. Respostas
    1. O receituário tem um problema: e se começar a gostar de pessoas, bem cozinhadas?

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    2. Nessa altura, é substituir por chá de tília. Duas vezes ao dia.

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    3. Negócio feito, mas apenas se me colocares a mantinha de lã no colo e aconchegares a roupa da cama.

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    4. Troco isso das mantinhas por aquecimento central e leitura de histórias. Pode ser as mil e uma noites, mas aviso já que a minha edição é manhosa.

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