segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Recordar sorrisos em falsas promessas colhidas no chão



É este o tempo, por todos aceite, de renovar os votos despidos de empenho, as boas intenções, e as promessas vãs. A limpeza da alma vem com data marcada e periodicidade anual - como a desparasitação interna nos cães. Mais tarde, logo chegará, a hora de com elas se pavimentar o inferno. Ontem todos fumaram o último cigarro, beberam o último whisky, e juraram falsamente uma última vez. Hoje somos uma comunidade exemplar, pia e devota, responsável. Amanhã o impulso reformador será jogado ao vento e as nossas limitações mais evidentes que os glúteos de concorrentes televisivas.

O Ano Novo é uma instituição inofensiva e sem utilidade particular, em prol de quem quer que seja, excepto como bode expiatório de gente embriagada que expele declarações emotivas e faz juras postiças. Apesar disso, é desejável que todos usufruam o momento com a ligeireza adequada à grandiosidade da ocasião.

1 comentário:

  1. Tudo isto que dizes aqui é verdade. Mas há qualquer coisa na mudança de ano que emociona. O que acontece comigo é o mesmo que acontece com a mudança das estações. Sempre que há mudanças, ainda que eu esteja sempre a mudar, que paradoxo, não deixo de sentir. É mais um ano que se vai embora, levando com ele uma catrefada de pedaços de mim. Gosto mais de falar no concreto. É por isso que me " ponho" aqui. Quanto ao ano novo, não me emociona tanto como o já passou porque não sei como vai ser. Mas também tenho devaneios. Também desejo coisas boas aos outros, mais do que para mim. Não é por modéstia, não tenho, nem é por altruísmo. É porque sou mesmo assim. Eu cá me arranjo. Não preciso de desejar isto ou aquilo. Vou vivendo um dia de cada vez. De resto, não vale a pena ligarmos muito a isto. É todos os anos a mesma coisa.

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