Saturday, 16 February 2013

Ainda a propósito do substantivo masculino derivado do latim, culus, escreve uma leitora:


«olha, siceramente, nao ha cu nem pra começar esse assunto. país ridiculo em que alguem manda outro tomanocu via blog e isso é notícia, cara, na boa...»


Em boa verdade, crescia em mim a intenção de escrever sobre o número de desempregados, a balança de pagamentos, o défice orçamental, a dívida externa, a escassez de crédito às empresas, o aumento da taxa de mortalidade nos velhos, o desmantelamento do SNS, a crise da segurança social, a pilhagem do ensino público, o aumento da criminalidade violenta, a recente viragem lésbica da Daniela Mercury, ou até mesmo a falta de tomates de António Costa*. Depois, pensando melhor, decidi deixar esse trabalho para quem o faz pior do que eu, e falar apenas de tudo o que não sei.



Discordo que cu não seja notícia. Um bom cu é noticiado em qualquer lado. Neste particular possuo uma convicção que todos os dias se revigora

Também não é com frequência que o mais invisível ex-membro deste governo, o ex-Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas - pessoa por quem nutro muita estima, por nos unir o gosto pelo vinho tinto - homem de cultura, escritor e editor de Passos Coelho, ex-opositor reticente ao Acordo Ortográfico, e agora apoiante com dúvidas, recorre a um brasileirismo semântico para mandar tratar um hipotético elemento da Autoridade Tributária e Aduaneira (ATA). Esta a vexata quaestio. Vamos então mais fundo. Um assunto desta natureza não se compadece de moralidades flácidas.

Um alegado funcionário da ATA em actividade inspectiva


O que nós temos aqui é uma questão de saúde pública: «ir tomar no cu». Aprofundando mais, mas sem excessos, esclareço que o problema não está no cu, mas sim no uso que se faz dele. Empregar essa parte anatómica como remédio, e não indicar o número de tomas diárias - obrigatório em qualquer bula medicamentosa -, é perigoso para a saúde do paciente. Além de que, apresentar o acto como medicina alternativa, sabe-se lá para que doenças, é uma ameaça a todos os hipocondríacos heterossexuais

Temos ainda o problema da despesa, é que o doente menos avisado pode ser levado a pensar que é necessário atravessar o Atlântico para aviar a receita. Isso não é incómodo pequeno. E nós temos cá quem despache clentela com grande vigor e celeridade, isto claro, sem tirar o mérito à indústria farmacêutica brasileira que exporta curandeiros para todo o mundo. Já Camões celebrava no Canto II, estrofe 45, quando escreveu: «novas bundas ao mundo irão mostrando».

Tudo isto não seria caso sério se, ao invés do "tomar", o Francisco José Viegas, tivesse proferido um lusitano "vai apanhar" ou mesmo um "vai levar", aí todos saberíamos do que falava.

Depois de todo este arrazoado, quem ainda não percebeu que uso pode dar ao dito, e não tem mais que fazer, consultar aqui: roçar o cu pelas paredes.




(Notaram que nem por uma única vez mencionei Tomás Taveira «Uiiiii, ca bom!», ou Fernando Ulrich «Ai aguenta, aguenta»?)



*Nada de surpreendente, apenas uma versão mais jovem do "peixe de águas profundas", Jaime Gama.

5 comments:

  1. This comment has been removed by the author.

    ReplyDelete
  2. Anonymous14:03

    Para mim o cu do assunto está apenas na singularidade, não de uma rapariga loira, mas do ex-secretário de estado da cultura só ter dado conta agora - distraído que o senhor é, valha-me deus- pouquitos meses após ter largado aquela coisa a que chamam governo, que o destino certo de tudo aquilo é irem levar, apanhar ou tomar, no mesmo sítio onde as galinhas levam e parece que gostam ( não têm outro remédio... as opções são muito limitadas).
    O funcionário de ATA é que não me parece ser o cu certo.

    ReplyDelete
  3. This comment has been removed by the author.

    ReplyDelete
  4. http://avedearribacao.blogspot.com.br/2013/02/tomar-o-que.html

    os sentimentos têm um peso mais live qd expressados noutra lingua, mm que seja so noutro sotaque. ia dizer-te mais coisas, mas lê aí o JV.
    Bjo

    ReplyDelete
    Replies
    1. Bem, tenho a dizer que o cu já não é acentuado, e nem sequer por motivo do AO.

      Estou com Espanha:Tontos del culo. Que le van dando.

      Delete