quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Interrompemos por breves instantes, a emissão dedicado ao beijo, para um recado de última hora


No corpo feminino, esse retiro
— a doce bunda — é ainda o que prefiro.
A ela, meu mais íntimo suspiro,
pois tanto mais a apalpo quanto a miro.

Que tanto mais a quero, se me firo

em unhas protestantes, e respiro
a brisa dos planetas, no seu giro
lento, violento... Então, se ponho e tiro

a mão em concha — a mão, sábio papiro,

iluminando o gozo, qual lampiro,
ou se, dessedentado, já me estiro,

me penso, me restauro, me confiro,

o sentimento da morte eis que o adquiro:
de rola, a bunda torna-se vampiro. 

Carlos Drummond de Andrade

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