Jenny, personagem interpretada por Jennifer Aniston, à noite, enfadada, enquanto aspergia com estrógenio e progesterona, o compartimento onde o guião colocava a cena, dirigiu-se ao cônjuge, Charles, com voz de comando:
- Vamos fazer sexo, há muito tempo que não tenho um orgasmo.
O actor, um qualquer, no papel de marido, sentado na cama e de computador portátil ao colo, retorquiu:
- Mas não vês que estou ocupado amor?! A trabalhar! E não há assim tanto tempo que... atravessamos uma fase morna, apenas isso, não é grave, fica p'ra outro dia, nós... - silabou ele, enquanto encolhia ligeiramente os ombros e se preparava para dar o assunto por encerrado.
Jenny atalhou-o:
- Não é morna querido. Eu vivo no Pólo Norte! Ou te mexes, ou vou ao WC, e uso o vibrador até me satisfazer!
Charles, entre o surpreendido e o indignado, lançou-lhe a ofensa à cara:
- Mas tu tens um vibrador? Usas uma máquina para teres prazer? Que me substitui?! O que vai a tua mãe pensar da filha quando eu lhe contar?
E ela, parodiando burlescamente os trejeitos faciais do espanto dele:
- Quem é que tu pensas que mo comprou?
- A tua mãe... sabe... sabe da nossa vida íntima? - balbuciou o marido entre a curiosidade e o falso pudor.
- Toda a minha família sabe; até o meu pai! - disparou ela a plenos pulmões, afrontando-o.
- Bem... vai, vai para o quarto, se ainda estiveres acordada quando eu chegar, faço-te a vontade... e talvez um filho - murmurou ele, com o rosto banhado em resignação.
Este trecho do filme indignou-me. Entendem o motivo? Não? Bem, faltarem indicações de cena, para se perceber que, apenas um indivíduo com lesões graves no sistema nervoso central, ou as glândulas endócrinas removidas, pode assumir o comportamento de um rizópode, perante uma feromona como a Jenny - até porque, como se viu depois, a história era outra - é algo que podia facilmente deixar passar.
A linguagem utilizada também não incomoda. Já ouvi bem pior na têvê. E vibradores, é coisa de vulgata. Hoje as crianças insultam-se dizendo: «o da minha mãe é maior que o da tua», de somenos portanto o prazer cinético do atrito motorizado (um assunto sobre o qual até já se fizeram monografias na Universidade de Aveiro, curso de Inteligência Artificial, cadeira de Robótica).
Os avanços e recuos do diálogo, a credibilidade da situação, a superficialidade das personagens, enfim, em comédia dramática são minudências no contexto da obra. Posso aceitar que estamos aqui perante opções criativas do argumentista.
Mas, o que me indigna, e faz bradar - enquanto ergo os braços aos céus e, num gesto grandiloquente, rasgo as vestes com a fúria dos justos - é a falta de atenção ao pormenor!
Então, estes génios criativos de Hollywood, estes leitores ávidos de Kerouac, filhos dilectos da Beat Generation, e mais todos os que produzirem, "estrelaram", e viram a obra, ninguém deu por nada? Estão "pedrados" com LSD? Está tudo morto digo eu! Ou só pensam em sexo - outra possibilidade.
Rebobinem. A cena é colocada na divisão onde Charles está «sentado na cama». Posteriormente diz: «vai para o quarto».
Já lá estavam!
Um dos melhores textos. Duvido que os clientes habituais consigam ler até ao fim.
ResponderEliminar"o prazer cinético do atrito motorizado"
ResponderEliminardu melhor
Muito enganado, NoFrost, foi um suponhamos muito feio.Fiquei gelada.
ResponderEliminarEu li tudo, consegui! Ainda por cima um texto sem bonecos!
Afinal ele não a papava porquê?
ResponderEliminarPorque não tinha fome.
ResponderEliminar