domingo, 27 de novembro de 2011

Hollywood & Fox Movies

Jenny, personagem interpretada por Jennifer Aniston, à noite, enfadada, enquanto aspergia com estrógenio e progesterona, o compartimento onde o guião colocava a cena, dirigiu-se ao cônjuge, Charles, com voz de comando:
- Vamos fazer sexo, há muito tempo que não tenho um orgasmo.

O actor, um qualquer, no papel de marido, sentado na cama e de computador portátil ao colo, retorquiu:
- Mas não vês que estou ocupado amor?! A trabalhar! E não há assim tanto tempo que... atravessamos uma fase morna, apenas isso, não é grave, fica p'ra outro dia, nós...  - silabou ele, enquanto encolhia ligeiramente os ombros e se preparava para dar o assunto por encerrado.
Jenny atalhou-o:
- Não é morna querido. Eu vivo no Pólo Norte! Ou te mexes, ou vou ao WC, e uso o vibrador até me satisfazer!
Charles, entre o surpreendido e o indignado, lançou-lhe a ofensa à cara:
- Mas tu tens um vibrador? Usas uma máquina para teres prazer? Que me substitui?! O que vai a tua mãe pensar da filha quando eu lhe contar?
E ela, parodiando burlescamente os trejeitos faciais do espanto dele:
- Quem é que tu pensas que mo comprou?
- A tua mãe... sabe... sabe da nossa vida íntima? - balbuciou o marido entre a curiosidade e o falso pudor.
- Toda a minha família sabe; até o meu pai! - disparou ela a plenos pulmões, afrontando-o.
- Bem... vai, vai para o quarto, se ainda estiveres acordada quando eu chegar, faço-te a vontade... e talvez um filho - murmurou ele, com o rosto banhado em resignação.



Este trecho do filme indignou-me. Entendem o motivo? Não? Bem, faltarem indicações de cena, para se perceber que, apenas um indivíduo com lesões graves no sistema nervoso central, ou as glândulas endócrinas removidas, pode assumir o comportamento de um rizópode, perante uma feromona como a Jenny - até porque, como se viu depois, a história era outra - é algo que podia facilmente deixar passar. 

A linguagem utilizada também não incomoda. Já ouvi bem pior na têvê. E vibradores, é coisa de vulgata. Hoje as crianças insultam-se dizendo: «o da minha mãe é maior que o da tua», de somenos portanto o prazer cinético do atrito motorizado (um assunto sobre o qual até já se fizeram monografias na Universidade de Aveiro, curso de Inteligência Artificial, cadeira de Robótica).

Os avanços e recuos do diálogo, a credibilidade da situação, a superficialidade das personagens, enfim, em comédia dramática são minudências no contexto da obra. Posso aceitar que estamos aqui perante opções criativas do argumentista.

Mas, o que me indigna, e faz bradar - enquanto ergo os braços aos céus e, num gesto grandiloquente, rasgo as vestes com a fúria dos justos - é a falta de atenção ao pormenor! 

Então, estes génios criativos de Hollywood, estes leitores ávidos de Kerouac, filhos dilectos da Beat Generation, e mais todos os que produzirem, "estrelaram", e viram a obra, ninguém deu por nada? Estão "pedrados" com LSD? Está tudo morto digo eu! Ou só pensam em sexo - outra possibilidade.

Rebobinem. A cena é colocada na divisão onde Charles está «sentado na cama». Posteriormente diz: «vai para o quarto».

Já lá estavam!


5 comentários:

  1. Alan NoFrost17:39

    Um dos melhores textos. Duvido que os clientes habituais consigam ler até ao fim.

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  2. Anónimo18:18

    "o prazer cinético do atrito motorizado"

    du melhor

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  3. Anónimo18:38

    Muito enganado, NoFrost, foi um suponhamos muito feio.Fiquei gelada.
    Eu li tudo, consegui! Ainda por cima um texto sem bonecos!

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  4. Anónimo14:59

    Afinal ele não a papava porquê?

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  5. Anónimo22:33

    Porque não tinha fome.

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