quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Afinal é escambo

Lembram-se de quando se praticava o acto da procriação por amor, ou... vá lá, com vontade de, lembram-se? bons tempos esses hã?! hoje em dia, com esta crise, tudo se compra e tudo se vende. Estou comprador. Faço-lhe massagens nas costas e ela retribui: durante 15 minutos (mais coisa menos coisa), deixa-me sozinho e não interrompe.

1 comentário:

  1. Amor, pois que é palavra essencial

    Amor - pois que é palavra essencial
    comece esta canção e toda a envolva.
    Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
    reúna alma e desejo, membro e vulva.

    Quem ousará dizer que ele é só alma?
    Quem não sente no corpo a alma expandir-se
    até desabrochar em puro grito
    de orgasmo, num instante de infinito?

    O corpo noutro corpo entrelaçado,
    fundido, dissolvido, volta à origem
    dos seres, que Platão viu completados:
    é um, perfeito em dois; são dois em um.

    Integração na cama ou já no cosmo?
    Onde termina o quarto e chega aos astros?
    Que força em nossos flancos nos transporta
    a essa extrema região, etérea, eterna?

    Ao delicioso toque do clitóris,
    já tudo se transforma, num relâmpago.
    Em pequenino ponto desse corpo,
    a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

    Vai a penetração rompendo nuvens
    e devassando sóis tão fulgurantes
    que nunca a vista humana os suportara,
    mas, varado de luz, o coito segue.

    E prossegue e se espraia de tal sorte
    que, além de nós, além da prórpia vida,
    como ativa abstração que se faz carne,
    a idéia de gozar está gozando.

    E num sofrer de gozo entre palavras,
    menos que isto, sons, arquejos, ais,
    um só espasmo em nós atinge o climax:
    é quando o amor morre de amor, divino.

    Quantas vezes morremos um no outro,
    no úmido subterrâneo da vagina,
    nessa morte mais suave do que o sono:
    a pausa dos sentidos, satisfeita.

    Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
    estendidos na cama, qual estátuas
    vestidas de suor, agradecendo
    o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

    Carlos Drummond de Andrade

    ResponderEliminar