sábado, 18 de setembro de 2010

Salomé

[...] Porque não me olhas, Iocanaan? Os teus olhos, que eram terríveis, cheios de ódio e escárnio, estão fechados agora. Porque estão fechados? Abre-os! Ergue as pálpebras, Iocanaan! Porque não me olhas? Estás com medo de mim, Iocanaan, e por isso não me olhas? E a tua língua, que era como uma serpente vermelha expelindo veneno, não se move mais, nada diz agora, Iocanaan, aquela víbora vermelha que cuspia veneno contra mim? É estranho, não é? Como é que a víbora vermelha já não se move?... Consideraste-me ninguém, Iocanaan. Desprezaste-me. Pronunciaste palavras ignóbeis contra mim. Trataste-me como uma meretriz, uma dissoluta, a mim, Salomé, filha de Herodíade, princesa da Judéia! Bem, Iocanaan, eu estou viva; mas tu estás morto e a tua cabeça pertence-me [...] 

Salomé (1889) Óleo em tela de Leon Herbo 




 

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