quarta-feira, 13 de julho de 2016

Pókemon Go


   Vários carros e algumas mulheres depois, o analista ainda tenta fazer vingar a tese que tudo começou com a rejeição da tetina. Eu culpo a hereditariedade. Nem sequer é uma questão de princípio. Que outro motivo forte induziria a ignorância em filmes, séries e TV que todos vêem, músicas que todos ouvem, livros que todos lêem, e jogos que todos jogam? Sucede o mesmo com a informação: porquê ler o artigo quando o título contém informação suficiente? Há inutilidades que o decurso do tempo limpa e elucida. Crystal clear. Poupei horas preciosas simplesmente por ignorar — pessoas e coisas. Isso e memória anterógrada. Tal como alguns problemas que são filhos para mim: espero que cresçam para tratarem deles sozinhos.

   Não sou contudo perfeito. Experimentei o Flappy Bird e adquiri um livro da Elena Ferrante. Em italiano. Obtenho o meu perdão por haver lido Teresa Veiga enquanto "desconhecida" e o meu jogo preferido ainda ser Dune 2000. Preferia que tivessem continuado no desconhecimento das massas. Não tenho por costume partilhar as minhas autoras nem o meu espaço na cama. Se fosse bom não seria eu. Algo que a família faz questão em deixar claro enquanto pressiona com Clarice Lispector. Prometi ler (ou pelo menos começar) Coração Selvagem.
   O monólogo interior, com parágrafos, vem  de ter visionado ontem um filme cuja existência desconhecia por completo. The Best Offer (2013), assim se chama, de Giuseppe Tornatore. Um sólido oito em dez e uma parábola perfeita. 
   Da soma das partes, e em jeito de epílogo, concluo: ignoro o presente insistindo nas surpresas do passado.

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The past is a foreign country: they do things differently there. 
― L. P. Hartley

5 comentários:

  1. Muito bom esse filme. Mostra como os homens podem ser tão manipuláveis.

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    1. Obviamente. Por outros homens, que usam mulheres como ferramentas.

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  2. de tudo o que partilhas, a tua voz é a que me soa melhor. gosto de te ler.
    (é do caraças, tentar um elogio, sem me soar a ruído de fundo. desculpa o lugar-comum.)

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    1. Obrigado.

      (Não há nada a desculpar, o elogio é um aspecto da generosidade.)

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