Não tenho respostas, só interrogações e não confio em nenhum dos actores principais: José Sócrates e Passos Coelho

Queria muito não escrever sobre este assunto funesto. Mas, o que tem de ser, tem muita força.

Passos Coelho, presidente do PSD e futuro primeiro-ministro, corre para governar desde que, na puberdade tardia,* se filiou na JSD.

Economista de formação, licenciou-se com 36 anos na universidade Lusíada.

Filho político dilecto do esquivo e subterrâneo Ângelo Correia, foi seu braço-direito até 2009. Aguardou vez no partido até que, por desistência ou desatino dos correligionários, a cadeira vagou, restando ele.

Continua a elaborar um programa de governo desde Março de 2010, quando tomou as rédeas do partido.

Não conheço dele qualquer pensamento estratégico abrangente para o país, desenvolvimento económico, ou crise. 

O livro de Janeiro de 2010, Mudar,** é um amontoado de lugares-comuns, frases genéricas e conceitos vagos e indeterminados. A receita para tudo: vender e liberalizar. Substituir monopólios públicos regulamentados por mais e piores monopólios privados desregulados.*** Exactamente o guião que nos conduziu à crise de 2008. Ora, se de algo estou absolutamente convicto é do seguinte: os problemas económicos não podem ser solucionados pelo mesmo tipo de pensamento que os criou.  

Passos Coelho também não é célebre pela  originalidade do seu pensamento sobre as instituições, o sistema político, ou o cultivo da salsa. Nem por isso, nem por nada. No que respeita ao cinzentismo ideológico e originalidade, terá o seu espelho mágico no actual líder do PS e respectivos candidatos à sucessão: o adolescente Sérgio Sousa Pinto**** (n. 1972); o jovem António José Seguro (n. 1962), e o veterano sonso, António Costa (n. 1961).

Vem todo este desatino a propósito do livro, Voltar a Crescer*****, apresentado no pretérito dia 15 de Março.

«Nove meses de entrevistas com 55 empresários e gestores nacionais resultaram num livro com 365 ideias que pretende ser um guião para o Programa de Governo de Pedro Passos Coelho […].»

Agora estou verdadeiramente assustado. Ao ridículo marketeiro das 365 ideias, soma-se o tétrico conjunto de 55 "empresários e gestores nacionais". Este recurso a propostas avulsas, de muitos dos coveiros do défice e respectivos delfins, para recuperar todos os sectores da vida nacional, não augura nada de bom.

Espanta-me que, um indivíduo que corre para governar há 32 anos, ainda precise, nas vésperas, de conselhos e programa de governo feito manta de retalhos.****** Receio que Passos não passe de uma Bomboca política, retirado o chocolate das agências de comunicação ... o vazio. Maior o temor, quando sei que já fez um estágio Doce.*******

O cardápio ultraliberal,******** depois de iniciado com o socialista José Sócrates, continua.

Sei o que muitos pensarão; Passos faz o que pode para ganhar o poder, depois fará o que deve. Virtuosa ilusão, com o poder não vem a sabedoria, nem a sensatez. Não consta dos PEC.

Estamos assim condenados, não a cometer erros, mas, a elegê-los.

* 14 anos.

** Editado e apadrinhado pelo Régulo cultural Francisco José Viegas.
*** A este propósito temos os casos exemplares da EDP (recordam o milagre nos preços que o Mibel iria operar?), e da GALP, para só mencionar dois.
**** Perfilhado por Mário Soares.
***** Um publicitário do Viagra não diria melhor.
****** Elaborado para fatiar quem produz rendimento e quem trabalha.
******* Foi casado, em primeiras núpcias, com Fátima Padinha uma das "quatro" (a Laura "cantava" com o microfone em off) vocalistas do grupo musical Doce.
******** Para o desemprego, Passos, nove meses atrás, propôs aumentar de três para quatro anos a possibilidade de renovação de contratos a termo certo.