sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

WikiLeaks, Julian Assange e Bradley Manning - O elo mais fraco - Parte III



(Cont.)
David House refere que, os amigos de Bradley Manning como ele, estão apreensivos. Visitar Brad implica uma perseguição sistemática das agências de informação, afirma. 

House e a namorada, no regresso de férias no México, foram detidos para interrogatório, por agentes da NSA e todos os bens de natureza electrónica na sua posse, apreendidos.

Assange por sua vez, já transmitiu à imprensa, o que os seus contactos americanos lhe dizem: um “Grande Júri” foi secretamente nomeado para decidir se podem ser deduzidas acusações contra si. O Departamento de Justiça dos EUA recusa comentar. 

A “determinação” dos EUA, para obterem um processo judicial viável, vai até ao ponto de vários hackers garantirem ter-lhes sido oferecido dinheiro para se associarem à WikiLeaks e, desse modo recolherem provas de ilegalidades cometidas.

Um especialista em tecnologias de informação afirmou ao Washington Post que o Exército dos EUA lhe ofereceu dinheiro para se "infiltrar" no site. Recusou porque não quer ter nada a ver com "histórias de capa e espada."

O porta-voz do Exército, da divisão de investigação criminal confirmou posteriormente: "Existe uma investigação em curso. Não discutimos as nossas técnicas."

Opiniões sobre se Assange deve ou não ser acusado dividem figuras públicas nos EUA.

O ex-Procurador-Geral Federal Kenneth Wainstein, disse que o Departamento de Justiça "… deve ser capaz de fazer uma distinção clara entre a WikiLeaks e os meios de comunicação tradicionais. Mostrando-se claramente que o site é fundamentalmente diferente, o governo pode demonstrar que qualquer acusação contra aquela organização não é um ataque à liberdade da imprensa."

Já o presidente da Comissão Judicial do Congresso, John Conyers Jr., acha que não é boa ideia, chegando mesmo a afirmar: "Mas, ser impopular não é crime e publicar informações que ofendem também não."

Citação em versão longa (A mais interessante, mas, estou sem paciência para traduzir).
"As an initial matter, there is no doubt that WikiLeaks is very unpopular right now. Many feel that the WikiLeaks publication was offensive. But being unpopular is not a crime, and publishing offensive information is not either. And the repeated calls from politicians, journalists, and other so-called experts crying out for criminal prosecutions or other extreme measures make me very uncomfortable. Indeed, when everyone in this town is joined together calling for someone’s head, that is it a pretty strong sign we need to slow down and take a closer look. [. . .] Let us not be hasty, and let us not legislate in a climate of fear or prejudice. For, in such an atmosphere, it is our constitutional freedoms and our cherished civil rights that are the first to be sacrificed in the false service of our national security."

Comentário:  
  • Independentemente dos factos que vierem a ser revelados, os EUA, se coerentes com o seu passado, irão tentar por todos os meios acusar e extraditar Julian Assange para os EUA;
  • Vejam-se os casos (ambos diferentes na essência) de Roman Polanski e, o mais chocante de Robert James Fischer (Bobby Fischer), este último que, pela violação do embargo à ex-Jugoslávia foi implacavelmente perseguido em todo o mundo, mesmo velho e doente, mental e fisicamente; 
  • Os EUA, mesmo não conseguindo obter provas directas do envolvimento pessoal de Assange (ficheiros de logs, endereços IP – veremos do que é capaz a NSA), vão decididamente recorrer à prova indirecta (Bradley diz que … Bradley confirmou a … Bradley escreveu …), aguardemos;
  • Permanece uma incógnita saber se Assange, um ex-hacker de talento, resistiu à tentação de contactar Manning directamente face ao que se afigurava poder obter e, se este seria tão diligente na compilação maciça deste volume de informação, sem o encorajamento pessoal de Assange;
  • O tempo decorrido desde a detenção de Manning e a falta de uma acusação de espionagem contra Assange indica que, com toda a probabilidade, não existem provas directas de contactos entre os dois, a terem existido alguns (daí a pressão sobre Bradley para a obtenção de uma confissão envolvendo Assange);
  • Preocupante para o soldado americano é não ter fundos para organizar a sua defesa;
  • Um outro facto ainda não esclarecido é, o de saber se efectivamente Manning foi o “garganta funda” do Cablegate, sabe-se que sim, no caso dos Iraq War Logs (o ataque a civis do helicóptero Apache), mas, no restante não existe confirmação, a imprensa limita-se a assumir que sim, os departamentos de Estado e da Justiça dos EUA não ofereceram confirmação;
  • Na habitual dança entre sombras e luzes, ao melhor estilo de John le Carré, observemos o que é capaz de vislumbrar a imprensa.

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