terça-feira, 25 de março de 2014

Intervalo publicitário (voltamos em um minuto)


Não entendo a polémica instalada sobre a interpelação feita pelo jornalista José Rodrigues dos Santos ― a quem não aprecio o estilo, nem o piscar de olho cúmplice ―, ao comentador político José Sócrates. Não entendo que o anterior chefe de governo não possa ser questionado na sua coerência porque entretanto despiu uma farda e vestiu outra. Não entendo que o homem que assinou a intervenção estrangeira na economia doméstica, e sancionou a austeridade, não possa ver o seu discurso actual posto em causa. Não entendo que o jornalista seja criticado na sua atitude porque o código deontológico rejeita o sensacionalismo (qual?), ou porque escreve romances. Não entendo que o "respeitinho" seja muito bonito, e os bons costumes devam calar a discórdia, mesmo a feroz, directa à jugular. Não entendo que a inversão de papéis deva ser sancionada apenas porque o anterior primeiro-ministro está travestido de comentador. Não entendo que um político comente "a título particular", assim como não entendo que José Sócrates deva ser "deixado em paz" porque "o seu tempo já passou": a responsabilidade política não prescreve. Não entendo que as críticas venham dos pares do jornalista, os mesmos seres opinativos, agora armados de ética e moralidade, mas, que noutras ocasiões, na falta de argumentos, apoucam a vestimenta, o corte de cabelo, o excesso de maquilhagem, ou os dentes desalinhados, de quem não se alimenta na mesma manjedoura - claro que tal vilania é feita "enquanto cidadãos", nas redes sociais, e nunca "na qualidade de jornalistas" no pasquim onde garatujam. Entende-se assim melhor que gostem de separar as águas.

Mas isto sou eu que passo a vida a tratar pratos de papel reciclado como bone china.


5 comentários:

  1. Só te digo uma coisa que é para não chatear muito! Há-de haver quem se pintasse para escrever uma coisa destas e não tenha pinta para o fazer. Era para dizer outra coisa em vez de pinta, mas não digo. Ficamos assim. Com tanta gente para aí a comentar aos caídos, isto soou-me que nem canja. Parabéns!

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  2. Pois...Vou rastejando, aqui e ali, entre uma notícia e outra. Cada vez menos. É que tenho um "estrombo" delicado e estas merdas reviram-me as tripas. Embora sejam um excelente purgante, sem dúvida, gosto de ser eu a escolher que me enfia o dedo rectaguarda acima.
    Estas coisas de ética e moralidade têm dias. Aplica-se quando convém. Conforme sopra o vento. E a malta move-se como enguias.
    Olá Anãozinho cheio de razão. Salvé!
    Olá 'Zabel. Saudades.

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  3. Muita gentileza vossa.

    Procuro muito não me deixar enredar na actualidade, mas, por vezes sucumbo à tentação. A carne é fraca.

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  4. No fim de um dia de muita estafa, ainda bem que por aqui aparece aquele cachorro endiabrado.Olha, cachorro, nós conversamos, entretanto. Lembro-me de ti muitas vezes.
    Quanto a ti, Anão, gostei da tua saída espirituosa." A carne é fraca!" Pois! Vamos andado. Eu também me tento alhear da realidade, mas não consigo. É mais forte do que eu!

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  5. muito bom, queria imenso linkar e não consegui achar os botões. Bjos

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