segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Intimissimi


Desce do banco redondo de pé alto e dirige-se à mesa. Caminha sobre uma recta imaginária. Andar estudado, feito de cálculo e precisão. Passos curtos e ritmados. Maravilha da biomecânica. Metrónomo sensual. As coxas, aprisionadas na saia travada, já fora de moda, esfregam-se mutuamente produzindo o frufru característico dos tecidos acetinados. «Nylon, ou seda lassa em cinto de ligas?», interroga-se. Antecipa uma noite feliz.

Mergulha o indicador no copo e rodopia os cubos de gelo com ruído. Retira o dedo, suga-o sem afastar os olhos do andar hipnótico. Observa a cintura fugaz, as ancas demoradas construídas para amplexos ferozes. «Grrrr! O entesouramento é o seu destino, entrego-lhe as poupanças», e sorri com a alusão. A trepidação, na blusa de angorá, indica a saudável ausência de silicone. Tiquetaque, tiquetaque, geme o granito sob os stilletos. Baixa o olhar, descobre os músculos gémeos das pernas desenvolvidos  «Excesso de ginásio, já luta contra o tempo, no mínimo, uma hora diária na passadeira. Envelhecer é fodido, mas, ainda tem os chacras alinhados», sorri interiormente, pleno de satisfação. Ela estaca junto à mesa, como esperado. O cabelo escuro e a face muito branca acentuam o vermelho-sangue do batom. De perto distingue-se o excesso de blush, os olhos encovados, as sobrancelhas milimetricamente aparadas, o olhar de ave de rapina. Num misto de bailado e sincronia dobra-se, num ângulo perfeito de noventa graus, como se dispusesse de uma dobradiça na zona do corpo onde se unem os hemisférios; segura a Birkin com a mão esquerda, com a direita afasta o cabelo do rosto, aproxima-se ligeiramente, e sussurra: «Não escrevo uma linha desde dois mil e doze, só falo em mamas, sutiãs, e, ainda assim, tenho mais visitantes do que tu!... Anãozinho!», cospe ferozmente. Ergue-se, gira sobre os tacões com perfeição militar e volta ao assento, olhar sonhador, abanando os ombros. «Cabra, grande cabra!», expeliu raivoso «Conhecem-se todas... as putas!». Pagou. Saiu. «Quer queiras, quer não, hoje levas ADN p'ra casa!», repete sem cessar. Já no parque de estacionamento baixa os calções e unge, com todos os líquidos ingeridos, o manípulo e a porta do Beetle que sabia pertencer-lhe.

4 comentários:

  1. Cá para mim os cabrões também são uma irmandade... Belo naco de prosa. Agarra.

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    1. O sr. Miyagi ensina a bloquear com eficácia os golpes baixos desses gajos.

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    2. :D ah ah ah ah ah. Vou espalhar palavra, pode ser que seja útil a alguém. (Tudo a correr às arrecadações em busca das VHS / BETA velhinhas...)

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  2. Anche a me mi piace le gonne strette

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